22 de dez. de 2009

Jogo do Ano: Uncharted 2: Among Thieves

Bom, mais uma vez, um OFF, mas agora com O JOGO do ano, nada menos que Uncharted 2: Among Thieves.


 Introdução
Não é fácil ser o sucessor de um jogo como Uncharted: Drakes Fortune. Nada fácil. O jogo que revigorou o gênero action / adventure / 3rd person shooter (dominado por Tomb Raider há tempos atrás), fez tudo tão bem, numa combinação tão sincronizada de plataforma, “stop ‘n pop”, gráficos, história e personagens, que fica realmente difícil imaginar uma sequência melhor em qualquer aspecto que seja. O comum na indústria, nestes casos de sucesso extremo de crítica e de público, é o famoso mais do mesmo com algumas pitadas de sal. Mas, um estúdio como a Naughty Dog não é mais do mesmo. Com um single player maior e mais profundo, um cast maior de personagens igualmente carismáticos e um multiplayer arrasador, Among Thieves é melhor em tudo e mais um pouco.



("Montagem" feita por mim, serve como wallpaper, clique na imagem para vê-la completa)

 História

Três anos após o incidente com o ídolo dourado e amaldiçoado em Uncharted, Nathan Drake é abordado por um velho conhecido, Harry Flynn e sua parceira, Chloe. Eles procuram o terceiro integrante necessário para adquirir um artefato antigo que pertenceu a Marco Polo e, supostamente, indica o paradeiro de sua frota de navios carregados com tesouros chineses.

Nate, uma espécie de Indiana Jones moderno, surgiu com uma combinação de coragem, sorte, humorismo e muita atitude. Cercado por um cast que consiste de uma jornalista humanitária e um velho interesseiro, egoísta e mulherengo, Drake se destacava no primeiro Uncharted como aquele que fazia tudo acontecer. Fosse em prol da loira bonitona ou do amigo das antigas.

Em Among Thieves, como o subtítulo sugere, nosso herói se vê em meio a um grupo totalmente diferente, onde todos os três possuem vontades distintas e, o mais importante, os próprios meios de conseguir o que querem. Ao chegar em um ponto da história, uma reviravolta (que não vou citar pra conter spoilers) faz todos os três seguirem caminhos diferentes em direção ao mesmo fim, mas com propósitos distintos. Isso faz com que novas facetas de Drake sejam expostas em relação aos seus relacionados, além de acentuar sua personalidade e o tornarem definitivamente aquilo para o qual ele nasceu: ser o herói no fim do dia.

Com a inclusão de um inimigo mais carismático, a volta do cast original e a inclusão de novos coadjuvantes muito marcantes, a história segue fascinante e envolvente até os minutos finais. Amor, ódio, dúvidas, o enredo é alimentado por todo tipo de sentimentos e desperta nos amantes de uma boa aventura o melhor que se pode conseguir em um gamer: a vontade de querer chegar ao final logo. A ânsia pelo próximo capítulo, a curiosidade pelo “tesouro final” e um genuíno sentimento de amizade entre o jogador e os personagens. Trabalho de primeira e sem igual. 

 Gráficos 
 Uncharted: Drakes Fortune é belo, muito belo. É tão belo que ainda hoje (dois anos depois) pode ser comparado frente a frente (e sai ganhando) de muitos lançamentos atuais. Among Thieves segue o mesmo padrão de seu predecessor. Ao contrário da onda de jogos sombrios, com paleta de cores mornas e texturas frias, o mundo de Drake vai totalmente ao contrário, com cores vibrantes e texturas maravilhosas que dão vida a uma direção de arte impecável, regadas com um dos maiores trabalhos de animação e mocap já vistos em um jogo.

Mesmo com um tom cartunesco, a qualidade de modelagem dos personagens beira o absurdo. A ND optou nesta sequência por utilizar uma engine de física “terceirizada” ao invés de aproveitar e implementar a sua engine proprietária. Com isso a engine gráfica do jogo (ND2.0) teve mais espaço para otimizações e o chip gráfico do PS3 teve mais espaço liberado para trabalhar em novos efeitos. O resultado é nada menos do que impressionante, mais polígonos, mais objetos, mais variedade e uma iluminação ainda melhor que o original.

Foco diferencial, três novos tipos de mecânica (fases que literalmente se movem e se modificam no meio do gameplay), texturas espetaculares para pedras, lodo, terra molhada, iluminação HDR e sombras dinâmicas 99% do tempo. Soma-se isso ao fato do jogo ser mais variado em localidades em relação ao primeiro e você tem um dos maiores showcases gráficos desta geração.

O jogo começa com uma breve apresentação ao jogador das novas fases na neve, passa por ambientes fechados em Istambul, dá um pouco de “deja vu” nas florestas de Drakes Fortune e daí pra frente só melhora. Guerra urbana no Nepal, uma viajem de trem desde a base até o meio das montanhas do Himalaia e um vilarejo tão vibrante em cores que é um colírio para os olhos. Geleiras, florestas, ambientes urbanos, montanhas, o contraste e sua variedade nunca dão sossego para os olhos. Depois de Among Thieves, qualquer outro jogo parece feio e morno. O alto padrão foi lançado e as outras produtoras que corram atrás, porque o contraste com os outros jogos também é gritante.

Um destaque a parte vai para a animação do jogo. Com cutscenes feitas 100% com mocap e um sistema de blending de animação, tudo no jogo se move de forma tão fluída que não fica muito mais real do que isso. Você pode recarregar a sua arma pulando, nadando, pendurado, rolando, machudado, atirando ou escalando, se você faz na vida real, Drake faz. Existem diversos tipos de animações todas as vezes que você escala uma parede, pula um penhasco ou se pendura, Drake reage de um jeito diferente, cai de uma maneira diferente. Andar no gelo, na água, machucado, nas pedras, tudo tem sua animação própria e flui maravilhosamente bem.

 

 Jogabilidade
Among Thieves faz uma mistura de gêneros que poucos conseguem fazer de maneira bem feita. A mecânica do jogo corre em cima de três padrões básicos: shooter, plataforma e combate físico. Mas o mais interessante é que não são modos de jogos, a transição entre todos eles é nula, tudo funciona ao mesmo tempo e, apesar da separação por capítulos (sem loadings) limitar o que você pode fazer em certas partes, nos momentos mais caóticos do jogo você se pega atirando enquanto escala, lutando enquanto cai e se escondendo enquanto foge, tudo de uma vez só!

Na parte de shooter, o sistema de cover foi aprimorado, agora é possível criar sua própria cobertura usando alguns (poucos) objetos do cenário e sair de uma cobertura para outra com animações específicas para isso, o que evita (apesar de não completamente) o problema de Drakes Fortune de ficar exposto na troca de um cover para o outro. A mecânica das granadas melhorou e agora não é necessário equipá-las antes de atirar, além de uma nova opção para troca de armas em punho mais rápida. Os problemas ficam por conta do sistema de “grip” que nem sempre “cola” Drake no objeto em que você quer, além de algumas decisões dúbias de design onde você tem munição infinita (inexplicavelmente) em algumas partes, seguidas de outras onde sua arma simplesmente some. Os bosses, apesar de bons, poderiam ser melhores (mecanicamente falando, pois o contexto deles é ótimo). Mesmo com a retirada total dos QTEs (que considero algo bom) o alto padrão do resto do jogo deixa uma sensação de “poderia ser mais”, algo muito parecido com o que aconteceu em God of War 1.

No quesito plataforma, o jogo continua muito agradável, assim como seu predecessor. O enredo nos coloca em algumas situações realmente distintas e belas, escalando e pulando alguns dos cenários e construções mais belos que você já viu (muitos deles em pleno colapso). E o melhor: a mecânica não é muito exigente em relação a timing e limites do que pode ser feito, apesar de você às vezes se pegar pulando a partir do “nada” (pisando numa base em falso), o jogador tem uma liberdade de execução muito boa e praticamente qualquer um pode executar os saltos mais complicados com pouco treino, o que torna o jogo muito aberto e fácil neste quesito (sendo que a dificuldade é focada no tiroteio e nos inimigos). O ponto negativo vai para o fato de que, apenas com algumas horas de jogo saltando, escalando e atirando, aliados a animação brutalmente boa do personagem, você tem a nítida impressão de que pode subir em qualquer lugar! Você sente que tem o poder, mas o design das fases impede isso... Tudo o que pode ser escalado no jogo é pré-determinado. Isso gera um resultado não muito agradável, como se te premiassem com a melhor arma do jogo depois de não sobrar ninguém para matar. Um desperdício de potencial, apenas.

Como nota final, o sistema de combate foi simplificado em comandos, mas dificultado em timing, agora tanto você quanto os inimigos possuem counters, então apenas um pequeno atraso no imput e você perde a luta. Difícil dizer se uma mudança para o melhor ou para pior, apenas uma solução diferente de design que premia os mais atentos, ao invés dos dedos mais rápidos, como no primeiro. Particularmente, no modo Crushing (Hardest) isso se torna muito importante no jogo, então é bom treinar porque se errar um timing de soco no inimigo mais simples que seja, você morre.





 Som
Uncharted 2 Among Thieves usa o que eu costumo chamar de trilha sonora orgânica/dinâmica, que se adapta as situações de maneira diferenciada e não sempre convencional. As composições são originais e se encaixam perfeitamente na ambientação do jogo. Curiosamente, um dos momentos mais imersivos da aventura não possui trilha nenhuma! Apenas som ambiente, o que o torna o momento particularmente especial e único, principalmente no contexto em que ele se encaixa no jogo. Uma surpresa realmente agradável e bem vinda no meio do caos dos tiroteios e da tensão das plataformas.

No quesito VA, o jogo se destaca pela veracidade e emoção dos atores. Captadas diretamente nas sessões de mocap, as vozes são extremamente bem colocadas, uma decisão de produção extremamente feliz, que não limita os dubladores a assistir as cenas e depois imaginar o que se passa na pele do modelo digital. Sendo as vozes dos próprios atores de mocap o sistema permite uma atuação muito fiel e realística. Adiciona-se a isso a variedade de nacionalidades, que passa do inglês britânico, inglês americano, um alemão meio americanizado, até o tibetano (literalmente e sem tradução!), o jogo esbanja carisma no departamento sonoro.

As explosões estão excelentes e o som dos veículos também, o caminhar dos personagens em solos diferentes gera sons distintos e as armas possuem características e sons interessantíssimos, como o “whommmmp” do lança-granadas (que por algum motivo é extremamente sexy e divertido). Um bom trabalho na parte de efeitos nos ambientes (apesar de discretos e algumas vezes ofuscados pelo resto) fecha o pacote do som de maneira excelente.

Multiplayer
A grande novidade de Uncharted 2 Among Thieves se encontra aqui, um modo completamente novo e que, acredite, é tão bom quanto o single player. A primeira vista, principalmente pela limitação de 10 jogadores e pelos modos padrões de jogo, você pode achar que é apenas um bônus, pois nada aqui é novidade. Ledo engano. A grande vantagem e novidade deste multiplayer em relação aos outros jogos do mercado é a sua dinâmica. O sistema plataforma/combate/tiro, utilizado no modo single player parece brilhar muito mais aqui do que lá.

É realmente prazeroso ver toda a qualidade gráfica 100% transportada para este modo e as mecânicas funcionarem tão bem no sistema de players VS players. A lutas são muito variadas e apesar do sistema de respawn de armas (já abandonado em alguns FPS) limitar a ação em alguns pontos do mapa, é possível jogar de qualquer maneira, ter resultados completamente diferentes e igualmente divertidos. A praticidade para escalar, atirar, se esconder e campear é genial.

Com o famoso sistema de “Perks”, você ganha dinheiro baseado no seu desempenho para utilizas “booster” que alteram a jogabilidade do seu personagem como mira melhor, mais munição, mais velocidade nas escaladas, mais força, etc. Você vai gastar muito tempo aqui se quiser se tornar um bom jogador, a variedade de mapas e localidades do modo single reflete diretamente aqui, sendo os mapas muito ecléticos e diferenciados em design, com todo tipo de estrutura para se pendurar, esconder e lutar.

O ponto negativo fica por conta do lag (a maldição de todo jogador online, brasileiro principalmente) e algumas decisões inusitadas de design e de mecânica, como o sniper não matar com 1 tiro, o blindfire ser praticamente automático e outros. A demora para encontrar jogadores também é bastante criticada e você pode ser pegar esperando longos minutos sem ninguém aparecer pra uma partida simples. Porém, o jogo é atualizado constantemente (sem patchs, direto na conexão “on the cloud”) e a ND promete manter o multiplayer de acordo com a voz da maioria. Assim esperamos. Para finalizar, um modo Co-op com até três jogadores, divididos em Objective, Survival e Gold Rush fecham o pacote. Viciante, pra dizer o mínimo.


Conclusão  

 Uncharted Drakes Fortune é o jogo que faz você ter vontade de comprar um PS3. Uncharted 2 Among Thieves é o jogo que faz você comprá-lo. O pacote é completo: gráficos top de linha, enredo cativante com personagens marcantes, jogabilidade boa e multiplayer matador fazem o fator replay ir nas alturas. Suporte a troféus, Invite in game e interface excelente escondem os pequenos defeitos de design e mecânica, que são mínimos e não afetam a experiência total.


 Prós

- Personagens carismáticos e enredo imersivo
- Jogabilidade variada e orgânica, sem transição, deixa tudo prático e visceral
- Replay praticamente infinito
- Gráficos lindos e direção de arte genial
- Valor de produção ridiculamente alto



Contras
 - Ter que escolher entre a morena e a loira
- Bosses enfadonhos perto do conjunto todo
- Algumas decisões de design pobres, principalmente no quesito plataforma (isoladas, mas estão lá)
 


 Até a próxima

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